Introdução:
Essa seção se inicia com o fato mais sobrenatural na bíblia, João entra na presença do Conselho Divino, o trono da gloria. O proposito de Deus é preparar João, e o leitor do livro, para os julgamentos que serão derramados sobre a terra. Ela apresenta a visão de quem está no controle e quem origina esses fatos, o próprio Cristo.
Deus revelou toda a cena da corte celestial nos capítulos 4-5 como ocorrendo num palácio celestial. A cena como de um tribunal retrata um conselho divino em sessão. Nesta reunião, Deus decide quem seria digno de assumir a autoridade da terra. Autoridade essa para julgar e recompensar os seus moradores O Cordeiro é digno de receber uma herança da aliança, simbolizada pelo rolo de sete selos, por meio de um processo de julgamento investigativo.
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Espiritualmente podemos entender que Deus Pai está entregando o testamento da terra a Seu filho que está recebendo toda autoridade e domínio sobre ela. Vemos o detalhe dos 7 chifres em Apoc. 5:6 que representa a plenitude da autoridade.
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O propósito pastoral é assegurar aos cristãos sofredores, que Deus e Jesus são soberanos e que os acontecimentos que os cristãos enfrentam fazem parte de um plano soberano que culminará na sua redenção e na vindicação da sua fé através do castigo dos seus perseguidores.
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Nenhuma parte das Escrituras é mais calculada para evocar adoração do que estes dois capítulos da profecia de João.
Podemos fazer uma conexão de mesmo proposito com Daniel 7:9-14, onde antes de Deus revelar a visão dos últimos 3,5 anos dessa era, Ele introduz Daniel a visão do trono da gloria e pela primeira vez na bíblia temos visão do Filho do Homem recebendo toda a autoridade. Mais uma vez a intenção de Deus era mostrar que Ele está no controle de todos os acontecimentos.
Trono de Deus:
Não é possível precisar o intervalo (“depois destas coisas”) entre a primeira seção do livro (a visão do Cristo glorificado e as sete cartas às igrejas da Ásia Menor) e esta seção que se abre com a visão da glória de Deus, mas fica claro que o capítulo 4 inaugura um novo momento na narrativa apocalíptica, que terá́ relação com todos os demais acontecimentos que se seguem. Porém cremos que esse momento referência o início da fase final dessa era, como descrito em Daniel 7:9-14.
- A visão dispensacionalista interpreta esse momento com o arrebatamento da igreja, olhando o livro de Apocalipse com uma escala de tempo. Porém teríamos que fazer uma inflexão interpretativa muito forte do texto para chegar essa conclusão e uma completa omissão de detalhes por João para um evento tão importante.
Importante entender que essa não apenas uma visão aleatória da sala do trono, mas se voltarmos ao versículo 10 do primeiro capítulo, João está tendo as manifestações do Dia do Senhor. Assim, a Sala do Trono ou o Conselho do Senhor está reunido para determinar o julgamento dessa era e suas manifestações que antecedem o estabelecimento do Reinado de Jesus Cristo.
a) A porta: Joao entra por uma porta no céu. Importante simbolismos porque essa porta de entrada é Jesus. Joao entendeu claramente isso pois escreveu Apoc 3:8 e Joao 10:7 onde Jesus é a porta de entrada ao trono da graça.
b) Conselho do Senhor: ao longo de todo bíblia vamos ter uma revelação gradativa desse conselho do Senhor.
a. Jó 1:6 ocorre uma reunião diante do trono.
b. 1 Reis 22:19 Profeta Micaías vê uma reunião do Senhor no seu trono e todo um exército espiritual.
c. Zacarias 3:1 Ele vê uma sessão como um tribunal diante do trono do Senhor
d. Isaias 6 Vê Deus assentado no trono e serafins. Quem irá por nós?
e. Ezequiel 1 Vê seres viventes e um homem assentado no trono.
f. Salmo 82:1 Deus lidera toda a congregação divina
g. Jeremias 23:18 quem esteve no Conselho do Senhor. (Jó 15:8)
h. Salmos 89:7 Deus infunde temor no meio do Conselho do Senhor
i. 1 Crônicas 24 o Tabernáculo de Davi e seus 24 turnos. De onde Davi tirou isso? Salmo 110, 15, 61:4, 65:4?
j. Colossenses 1:6 descreve uma hierarquia espiritual
c) Assentado no trono: Com certeza é a visão de Deus Pai, João não consegue fazer uma descrição clara devido ao esplendor da glória, visão semelhante de Daniel 7:9 com o Ancião de Dias. O seu aspecto era como pedra de Jaspe e Sardônio. Apoc 21:11 as cores do vermelho fogo e brilho simbolizam a santidade e pureza do Senhor. Elas também representavam a primeira e última pedra da estola sacerdotal Ex 28:17
d) Os 24 Anciãos com suas coroas: Aperar de algumas teorias explicarem a humanidade desses anciãos, conciliando os 12 filhos de Israel e os 12 apóstolos (lei e graça), preferimos entender como seres espirituais que fazem parte do Conselho do Senhor desde a antiguidade. Coroa traz sempre a representação de autoridade. Interessante que muitas das recompensas as 7 igrejas são características dessa posição. A canção que eles entoam em Apoc 5:9-10 ajudam a fortalecer o conceito que são seres espirituais.
e) Relâmpago, Vozes e Trovões: Salmos e outros livros como Jó e Ezequiel retratam a voz do Senhor como trovejando pelo seu ruido, mas a reunião de Relâmpago, Vozes e Trovões iremos ver ao longo de Apocalipse quando o trono se abre para uma manifestação na terra. Podemos ver algo semelhante no antigo testamento em Ex 19:16 quando o Senhor sai do seu templo e desce sobre o Monte Sinai.
i. Apoc 8:5 … relâmpago, vozes e trovões. 7 Selo
ii. Apoc 11:19 …relâmpago, vozes e trovões. 7 Trombeta
iii. Apoc 18:18 …relâmpago, vozes e trovões. 7 Taça
f) Mar de vidro: temos essa manifestação em Ex 24:19 quando Moises e os 70 anciões se encontram com Deus. Mesma visão esta em Ez 1:22 e 1 Reis 7:23. Traz essa perspectiva da separação da pureza e santidade de Deus com a criação caída.
g) Os Setes Espíritos: Temos que ter o cuidado de não cair em uma heresia determinando a divisão do Espírito Santo, mas o 7 é o número da completude na bíblia: os 7 trovoes, os 7 olhos etc. Esse é o momento que podemos determinar conforme Isaias 11 e 61 que se prepara o momento do julgamento, dia da vingança do Senhor.
h) Quatro Seres Viventes: Seres angelicais criados por Deus. São seres viventes que manifestam os atributos de Deus, estão no meio e em torno do trono, bem próximos a Deus. Diz João que os seres eram cheios de olhos na frente e atrás, o que remete à vigilância incessante. Nada dos negócios divinos lhes escapa. A descrição dada por Joao mostra que eles têm uma certa autoridade em liderar a adoração, são sentinelas diante do trono e participam do Conselho para o derramamento do juízo. O Antigo Testamento traz a visão dessas criaturas em Ezequiel 1 e 10 e possivelmente o serafim da visão de Isaias 6.
De alguma foram elas representam toda a criação de Deus e trazem simbolismo importantes espirituais:
A tradição judaica interpreta a figura do leão para a tribo de Judá, o boi para a tribo de Efraim, o homem para a tribo de Ruben e a águia para a tribo de Dã, que possivelmente eram seus estandartes. Estes representavam os cabeças das tribos na distribuição do acampamento no Tabernáculo. Números 2:2
- Leão: Evangelho de Mateus (Rei) ou realeza.
- Novilho: Evangelho de Marcos (Servo) ou humildade, carregou nossas dores e culpas.
- Homem: Evangelho de Lucas (Homem perfeito) ou o homem relacional.
- Águia: Evangelho de João (Divindade) ou
Obs.: Santo Irineu foi um dos primeiros a associar com os evangelhos
Porém, precisamos ter cuidado na revelação de Apocalipse, para não nos distrairmos da centralidade de Cristo e a autoridade de Deus Pai. Por isso, o mais importante do que ressaltar os detalhes da criatura é ver o criador. O que os dois primeiros cânticos mostram:
1)Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, todo poderoso, Aquele que era, Que é e Que há de vir.
2)Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas e por tua vontade elas vieram a existir e foram criadas.
Atributos sobre Deus descritos nesses hinos: Santo, Justo, Misericordioso, Bondoso, Perfeito, Onipotente e Soberano. Existe 14 doxologias e 20 hinos em todo livro de Apocalipse.
Por fim, o versículo 10 tem uma importante verdade espiritual, os anciões rendiam suas coroas ao próprio Senhor. O padrão do mundo temos a questão de nossas conquistas que glorificam a nós mesmos. Ganhamos troféus, medalhas e prêmios de reconhecimento que exaltam a grandeza da obra do homem. Porém, aqui nos 24 anciãos temos o entendimento daquilo que eles têm ou receberam, a autoridade, sendo depositados/devolvidos ao próprio criador de todas as coisas. Então, nossas coroas (1 Cor 3:10, 2 Cor 5:10 e Apoc 2:10) são conquistas não para nossa glória, mas para adoração ao Cristo.
A Autoridade do Cordeiro:
Precisamos entender o momento dessa visão, voltando João estava em espírito no Dia do Senhor, aqui foi estabelecido o Conselho do Senhor para dar início ao julgamento da terra. Nas mãos de Deus Pai estava a “escritura” da terra, o testamento que será entregue a único digno de receber, Jesus.
O contexto de todo capítulo 5 está na centralidade de 3 pontos: a autoridade de Deus Pai, o testamento da terra ou rolo com os selos e o único que tem autoridade, porque conquistou, para receber esse rolo e iniciar o processo final de julgamento para essa era.
Nada em toda a criação foi achado digno para abrir os selos, julgamento ou cumprimento da profecia, nem homem, nem anjos, apenas o próprio Cristo porque conquistou esse direito sendo o Cordeiro de Deus que trouxe redenção a criação. A menção de um dos anciãos, Ele é Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi expressa que Jesus é o cumprimento da profecia bíblica. Desde o início Ele era o prometido de Genesis 3:15. É o cumprimento da visão de Daniel 7:13 onde é dado ao Filho do Homem a autoridade para julgar.
a) O Rolo: Esse rolo possivelmente refere-se também da visão de Ezequiel 2:9, um livro escrito por dentro e por fora, com lamentações, gemidos e ais. Ninguém no céu, na terra ou debaixo da terra tinha autoridade para abrir ou conhecer seu conteúdo. Jesus diz Mt 24:36 os anjos não sabem, apenas o Pai. Isso o Pai reservou em sua soberania e passa ao Filho a autoridade para iniciar o julgamento e revelar os detalhes do plano do fim dessa era. Fil 2:10
b) Quem tem autoridade: O ancião descreveu Jesus como o Leão da tribo de Judá e a raiz de Davi. O Leão de Judá (Gn 49:9) e a Raiz (descendência) de Davi (Is 11:1, 10; Jr 23:5; 33:15; Mt 22:42-43; Rm 15: 12) são ambos títulos do Messias divino que cumpriria as promessas de salvação e governo do Antigo Testamento. Este é o único lugar no Novo Testamento onde esses títulos ocorrem juntos. Mas ele também descrito como Cordeiro, assim descrito em Gen 22:8 e Isa 53:7. Cristo venceu satanás, o pecado e a morte. Essas referências de Jesus mostram a importância da profecia bíblica do Antigo Testamento.
c) Os 7 Chifres, Olhos e Espírito: Chifres sempre representou autoridade na bíblia, e aqui com o número ela representa toda autoridade, com toda visão e discernimento bem como e toda manifestação do poder do Espírito. O Rei, o Sacerdote e o Profeta.
d) Harpas e Taças: O próprio texto descreve que as tacas estão cheias de incenso com as orações dos santos (Sal 141:2). No antigo testamento (Num 16:6) essa era uma atribuição exclusiva do sacerdote, mas cada cristão se tornou um sacerdote 1 Pe 2:9 e Apoc 1:6. Esse é o único lugar na bíblia que criatura espirituais estão tocando um instrumento musical. Heb 10:19
O momento mais fulminante desse capítulo quando o Cordeiro recebe o livro das mãos de Deus Pai e assume toda a autoridade dos eventos a serem manifestados na terra durante o período do julgamento.
Mais 3 hinos temos nesse capítulo:
3)Digno és de pegar o livro e de quebrar os selos, porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda a tribo, língua e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes e eles reinarão sobre a terra.
4)Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor.
*5)Aquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o domínio para todo o sempre. Toda a terra canta)
Os hinos descritos seguiram uma procissão cerimonial, os dois primeiros exaltam Deus Pai todo poderoso e Criador de todas as coisas. Seguimos por um hino de reconhecimento da dignidade do Cordeiro de receber a autoridade e seus atos de justiça. O seguinte é proclamado após o Cordeiro receber toda a autoridade exaltando a Ele como um Rei e por fim toda a criação exaltando a Deus Pai e a Jesus.